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Espionagem jornalística

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Rogério Simões | 2011-01-21, 11:42

coulsonblog.jpgA renúncia de um assessor do primeiro-ministro britânico não deveria despertar muito interesse fora do país. No entanto, a queda de Andy Coulson, agora ex-diretor de Comunicação do governo, tem implicações muito além da política. Os limites da imprensa, o direito a privacidade das celebridades, o poder do maior conglomerado de mídia do mundo, as relações entre governo e magnatas das comunicações, tudo isso está ligado à ascensão e à derrocada de um dos mais próximos assessores de David Cameron.

O jornalista Andy Coulson tem 43 anos de idade. Fez sua carreira no mundo dos tablóides, como são conhecidos aqui na Grã-Bretanha os jornais mais sensacionalistas, opinativos e populares. Sejam de direita (, ) ou de esquerda (), os tablóides britânicos são comprados diariamente por milhões de pessoas, impulsionadas por coberturas apaixonadas de esporte e política e constante acompanhamento da vida particular de celebridades. Coulson destacou-se e subiu rapidamente no The Sun, do grupo News International, de propriedade do australiano Rupert Murdoch, dono de jornais e redes de TV em diversas partes do mundo. Mudou-se logo para o , tablóide do mesmo grupo que substitui o Sun aos domiingos. Durante os quatro anos em que Coulson esteve no comando, o jornal trouxe diversas reportagens exclusivas envolvendo a vida particular de pessoas famosas. Mas, em 2007, uma investigação policial descobriu que notícias envolvendo a família real haviam sido obtidas de forma ilícita, por meio do grampeamento de telefones de assistentes do príncipe William. O correspondente de assuntos da realeza do jornal foi preso e condenado pelo grampo. Andy Coulson renunciou ao cargo, apesar de negar ter conhecimento das atividades do repórter.

Apesar do revés, sua carreira teve uma guinada surpreendente: meses depois da saída forçada do News of the World , ele assumiu o posto de diretor de Comunicações do Partido Conservador, que na época já se preparava para voltar ao poder. Para muitos, seu passado de influência dentro do grupo de Ruper Murdoch explicou a escolha. No final do governo de Gordon Brown, Murdoch mudou de lado na política britânica. O The Sun, que havia apoiado o "novo trabalhismo" de Tony Blair, resolveu bancar a oposição conservadora. Coulson seria, na avaliação de analistas e dos trabalhistas, a ligação entre o Partido Conservador e os interesses de Murdoch. Com Cameron eleito primeiro-ministro em 2010, Andy Coulson tornou-se diretor de Comunicações do governo. Para infelicidade do premiê, no entanto, logo o caso da espionagem ilegal voltou a assombrar seu assessor. Em 2009, o jornal , de centro-esquerda e concorrente das empresas de Murdoch, publicou que o esquema de grampeamento de telefones particulares havia ido muito além da família real. Personalidades do futebol, políticos e celebridades, como a atriz Sienna Miller, também teriam sido vítimas. O caso cresceu, e no início deste ano um editor-assistente do News of the World foi suspenso, depois que uma ação legal, supostamente feita por Miller, o associou aos grampos. A especulação e a pressão aumentaram até que Andy Coulson finalmente entregou seu cargo.

As perguntas levantadas pela saga são muitas. Até onde a imprensa, movida pela sede de novidades sobre a intimidade de pessoas famosas, admite ir para obter um novo furo? Quanto tempo e dinheiro jornalistas deveriam investir em assuntos que despertam a curiosidade do leitor, mas não são exatamente de interesse público? Até onde vai, ou deveria ir, a relação entre políticos e grupos de comunicação, cujos interesses muitas vezes passam por decisões governamentais? Andy Coulson sempre disse não ter conhecimento dos grampos praticados na redação que comandava, mas sua carreira meteórica se beneficiou da cultura de investigação da vida privada de terceiros. Tal cultura não mudará em decorrência do caso, que ainda pode ter novos capítulos na Justiça. Mas o fim talvez deixe de justificar alguns dos meios utilizados.

°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário

  • 1. à²õ 01:10 PM em 23 jan 2011, Sergio de Camargo escreveu:

    Se há limites para o exercício da imprensa, quais são e quem os deve estabelecer? A questão se põe em todo o mundo ocidental, onde a democracia neo-liberal dá sinais de esgotamento, perceptíveis [veja-se a judiciosa observação de Jürgen Habermas].
    Na verdade, é o próprio futuro da democracia ocidental que está em jogo.
    A pós-modernidade nos aponta um caminho que é uma condição - e não uma posição estabelecida. É a condição específica da sobrevivência da vida humana, em um mundo onde a humanidade cessa de existir em face de seu próprio cumprimento.

  • 2. à²õ 02:20 PM em 23 jan 2011, Roberto Küll Júnior escreveu:

    Gostaria que alguns jornalistas fizessem o mesmo em algumas prefeituras do interior do Brasil. Tem muito coisa suja para ser descoberta.

    Podem achar BO's de gaveta, investigações paradas ou esquecidas favorecendo quem participa do esquema político, podem também encontrar figuras políticas envolvidas com corrupção, tráfico de drogas e pedofilia. É possível encontrar abusos e violações dos DDHH (Direitos Humanos). É possível também encontrar a troca de favores entre os três poderes.

    Quem sabe... não seja descoberto uma saída inteligente para o nepotismo, a troca de favores entre prefeitos e a máfia dos concursos públicos municipais, para alocar a parentela política.

    Veja, nestes últimos concursos públicos quanto parentes de prefeitos e parentes de presidentes de partidos políticos entraram nos primeiros lugares?
    - É claro, todos estudaram e merecem suas colocações, mas será que existem exceções?

    Podem encontrar ainda, indícios de suborno dentro dos vários conselhos regionais, para que as denuncias não sejam apuradas.

    Nesse mundo de hipóteses, suposições e até umas gotinhas de achismos, podem encontrar uma justiça invertida: advogados que se recusem a aceitar a impetrar ações contra figuras que participam do esquema político. Mas, o maior desafio será separar o verdadeiro do imaginário popular.

    Por fim, penso e acredito, que o limite profissional dos jornalistas devem ser sempre a busca pela verdade, com ou sem espionagem.

  • 3. à²õ 12:11 PM em 24 jan 2011, Carlos Eduardo escreveu:

    Concordo com o sr.Roberto Küll Júnior, e penso que esta questão não seja apenas a nível de Brasil, mas no que toca a nós, a imprensa brasileira é dominada pela "elite orgânica" -assim nominada pelo PhD em Ciências Políticas, Armand Dreifuss em sua obra: 1964-A Conquista do Estado.
    Não há lisura, o que á é a mais escancarada parcialidade, os veículos de mídia, todos que surgem com uma atitude ousada são engolidos pelo poder econômico desta mesma elite, anulando qualquer movimento à margem de seu centro de poder. Ainda no tempo da ditadura estes elementos da "elite orgânica" conseguiram articular de tal forma junto à ONU que conseguiram relativa passividade à total falta de respeito aos Direitos Humanos, declaração assinada pelo Brasil. A nossa democracia - a brasileira- tem muito mais semelhança com um mundo virtual e fictício, do que com a realidade expressa nos seus fundamentos.

  • 4. à²õ 02:52 PM em 24 jan 2011, Mari Ceratti escreveu:

    O artigo me fez voltar a uma discussão clássica dos bancos da faculdade: esse tipo de imprensa só se sustenta porque o público "pede" esse tipo de notícia? Ou o gosto pelo bizarro, pela notícia obtida de forma ilícita e pela informação não exatamente de interesse público é algo que os meios de comunicação criaram e ensinaram os leitores a desejar? É um debate que talvez nunca se esgote.

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