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O que mudou em 2010

Rogério Simões | 2010-12-27, 15:55

obamairaqueblog.jpgComo em todo ano, muita coisa aconteceu em 2010. O noticiário manteve-se regularmente repleto de tragédias naturais (terremoto no Haiti, enchentes no Brasil e no Paquistão etc), dificuldades econômicas (especialmente na Europa), disputas políticas (Brasil, Grã-Bretanha, Estados Unidos) ou eventos esportivos. Mas há notícias que vão além do fato em si, suas consequências permanecem, na forma de possibilidades para o futuro ou uma realiadade completamente nova. Nesse aspecto, 2010 nos mostrou caminhos e ajudou a mudar o futuro por meio de alguns de seus acontecimentos. Abaixo, os principais.

Distribuição de poder no FMI. A transferência de poder, econômico e político, das potências ocidentais para nações emergentes, é um processo que ocorre há alguns anos. A transformação da China em potência capitalista, o fim do comunismo do Leste Europeu, o controle da inflação pela América Latina e a pacificação de grande parte da África deram condições para isso. A crise financeira de 2008 acelerou o processo, e a concessão de mais poderes aos emergentes dentro do Fundo Monetário Internacional, confirmada por ministros das Finanças do G20 em outubro, selou a mudança. Trata-se da virada de uma página dentro da distribuição de forças no gerenciamento da economia mundial. Novas mudanças devem vir nos próximos anos, possivelmente de forma mais rápida. O poder econômico global já não é mais o mesmo.

Acordo sobre o clima. Quando, em 2009, o mundo se reuniu em Copenhague para tentar buscar soluções para os desafios das mudanças climáticas, especialistas diziam que, se não houvesse acordo, o mundo estaria perdido. Quanto mais catastrofistas eram as previsões, mais parecia que os representantes dos diversos interesses nacionais se distanciavam de um denominador comum. Ele não veio, a decepção foi generalizada, e pouco se esperava da edição seguinte do evento, em dezembro deste ano, no México. Mas a reunião de Cancún surpreendeu, produzindo um acordo para o qual a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, deu nota 7,5. Para um tema tão importante, em que o mundo vinha repetindo de ano, é uma ótima nota. Poucos acreditavam em um acordo, especialmente um que estabelecesse a criação de um Fundo Verde. Ainda não foi o compromisso necessário para proteger o planeta, já que não estabeleceu obrigações legais para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. Mas pode ser visto como um divisor de águas na difícil tarefa de adequar desenvolvimento à capacidades naturais da Terra. O vazamento de petróleo no Golfo do México, meses antes, expôs a vulnerabilidade do meio ambiente à ações humanas. O acordo de Cancún recuperou a esperança na capacidade do homem de minimizar os danos causados ao planeta.

Vida artificial. Esse tema recorrente da ficção científica ficou muito mais próximo da realidade com o anúncio, em maio, de que cientistas dos Estados Unidos desenvolveram as primeiras células controladas por um genoma sintético. A célula em questão, de uma bactéria, não era artificial, mas o DNA dentro dela sim. As implicações do trabalho científico são ainda pouco conhecidas, e para muitos trata-se do primeiro passo na arriscada ambição humana de "brincar de Deus". Mas a descoberta é tida como uma das mais importantes da história da ciência. Daqui a 50 anos, 2010 pode ser considerado o ano em que a humanidade assumiu o controle sobre a sua própria criação.

EUA fora do Iraque. Na verdade, cerca de 50 mil soldados americanos continuam em solo iraquiano, mas em tese apenas para treinar tropas locais. O fim das operações de combate dos Estados Unidos, confirmado por Barack Obama em setembro, marcou o encerramento do que muitos consideram um dos maiores desastres da política externa de Washington e da Grã-Bretanha. A dupla de potências decidiu invadir o Iraque em 2003 para, em tese, desarmá-lo de armas de destruição em massa. Mas ficou provado que elas não existiam, e o que veio em seguida marcou o mundo por vários anos. Parte da violência no Iraque continua, mas a retirada americana pôs um freio na política intervencionista neoconservadora dos tempos de George W. Bush. Apesar da atual pressão sobre o Irã, devido ao seu programa nuclear, dificilmente os Estados Unidos repetirão a mesma estratégia usada contra Saddam Hussein.

As revelações do WikiLeaks. O terremoto causado pelo site do australiano Julian Assange ainda não pode ser completamente dimensionado. Quando, em novembro, o WikiLeaks passou a divulgar as primeiras de milhares de comunicações da diplomacia americana, ficou claro que entrávamos em novos tempos. As informações divulgadas já eram constrangedoras e reveladoras o suficiente para gerar uma crise na diplomacia global. Mas o processo pelo qual vieram a público e foram consumidas foi a principal novidade. Sem a tecnologia dos dias de hoje, os documentos não estariam tão facilmente acessíveis, supostamente a um soldado baseado no Iraque e acusado pelo acesso ilegal dos dados. Sem a internet a sua divulgação não teria causado tanto impacto. A posterior disputa entre WikiLeaks, o governo americano e várias empresas mostrou como o mundo virtual tornou-se palco de ações de guerrilha, com bancos de dados penetratos e sistemas derrubados. Como já escrevi neste mesmo espaço, a atividade do WikiLeaks veio para ficar, mesmo que o site seja fechado. Um drama antes vivido intensamente pela China, que trava uma guerra diária pelo controle do mundo digital, tornou-se dor de cabeça para a superpotência liberal. O conflito entre liberdade tecnológica e segredos de Estado será agora um elemento a ser considerado nas relações políticas de qualquer parte do mundo. Feliz 2011.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 12:31 AM em 01 jan 2011, paula escreveu:

    muito obrigada pela inteligente retrospectiva. vc é sempre preciso em suas análises.

  • 2. à 01:40 PM em 03 jan 2011, Mari Ceratti escreveu:

    As cenas daquele vídeo que o soldado norte-americano vazou pelo Wikileaks entraram para a minha lista de imagens mais chocantes de 2010, tamanha a displicência com que os militares encararam aquele ataque.

    Esse site não só escancarou o lado mais podre das forças armadas, da política e da diplomacia como também mexeu (e promete mexer mais ainda) com a forma como se faz jornalismo.

    Se o que antes era conseguido com trabalho árduo tornou-se amplamente acessível pela tecnologia, e se o "furo" agora pode cair nas mãos de qualquer pessoa ou veículo, que tipo de implicações isso traz para os jornalistas e seus respectivos veículos? Está aí uma reflexão interessante (julgo) que surgiu no último ano e que precisa continuar em debate.

    Acho que, daqui para frente, a mídia não pode mais ficar limitada ao simples "O Wikileaks falou" (para citar uma frase que escutei dia desses num parque aqui em Brasília). Precisa sair do tom declaratório e cada vez mais se dedicar a analisar as origens e as implicações desse conteúdo todo.

    Do contrário, pensará o leitor, jornais para quê? É mais fácil ler tudo diretamente da fonte...

    çDz.

  • 3. à 06:55 PM em 09 jan 2011, Livia escreveu:

    Catrastofistas????

  • 4. à 06:27 PM em 12 jan 2011, Eduardo escreveu:

    Parabéns pela retrospectiva!
    Acrescentaria somente um ponto sobre a questão da BP (Golfo do México). Meio ambiente e ações humanas são parte de um mesmo corpo, não são entidades separadas. Logo, a própria ação humana expôs a vulnerabilidade dos próprios seres humanos também, como parte de um todo. As fotos mostram fotos de pássaros com petróleo, porém, quais os impactos socio-econômicos e mesmo de saúde nos seres humanos? Garanto que não são poucos!
    çDz!
    Eduardo

  • 5. à 11:57 PM em 03 fev 2011, Klessio Castilho escreveu:

    "Obrigados a descobrir o futuro".
    Grandes filósofos renunciaram vários séculos de sua existência achando que poderiam desvendar o futuro. Máquinas foram projetadas, teorias conspiradas, aceleradores de partículas construídos, mas assim como crianças mimadas são induzidas à aprender pela repreensão, o mundo também está sendo ensinado. Assim defino os fatos que temos sido protagonistas enquanto humanidade, que hoje em 2010 estamos nos cientificando para um dia quem sabe aprender. Várias personalidades, quer anônimas, quer públicas, profetizaram o caos, final do mundo, apocalipse entre tantas outras facetas para o que hoje estamos no início de vivenciar.
    Ditados populares como "Temos que ensinar a pescar e não somente dar o peixe" hoje tem servido de referência para uma análise mais profunda daquilo que chamam de caos. Interpretar os acontecimentos e suas consequências, pelos civis, pelos militares, oprimidos, políticos, libertados, religiosos, políticos ou qualquer ser intelectualmente desenvolvido, faz de nós todos crianças diante do desconhecido, da força suprema do universo, da causa e da consequência.
    Assim como o ingênuo ser só sai dos seios educacionais pelo mérito do aprendizado alcançado, a humanidade deixa agora de ficar à revelia deste comportamento, sem ainda se dar conta muitas vezes disso, talvez somente por intuição.
    Não prego crença alguma, tampouco almejo qualquer vantagem política, fato lógico é que as tragédias vivenciadas, a distribuição do poder, a preocupação com o clima da humanidade, a pesquisa para perpetuar a espécie e curar seus males e as verdades reveladas por comunicações mais eficientes, tudo e todos os fatos de grandes proporções retiram a incipiência da humanidade.
    Estamos sendo obrigados a descobrir o futuro, a sermos mais justos, humanos, equilibrados, solidários, estamos sendo obrigados a redescobrir nosso valores, mesmo que alguns chamem isso de: Fim do Mundo!
    Sucesso a todos nesta empreita.
    çDz
    Klessio Casitlho

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