Bancos e Estado no mundo pĂłs-crise
O mercado financeiro no mundo desenvolvido voltou a estourar champanhe. O Ăndice Dow Jones da Bolsa de Nova York já opera acima dos 10 mil pontos, o mercado de ações londrino segue em constante alta, e agora os bancos, que um ano atrás tanto sofriam, voltam a acumular lucros bilionários. Na quinta-feira, o Goldman Sachs anunciou um lucro de US$ 3,19 bilhões de julho a setembro, depois de desempenho semelhante no trimestre anterior. Para celebrar, a instituição já prepara o que poderá ser o seu melhor ano em termos de bĂ´nus milionários a seus executivos.
Há um ano, governos ao redor do mundo tiveram de meter as mĂŁos nos bolsos para salvar instituições financeiras que, com seus complicados e arriscados modelos de fabricação de riqueza virtual, haviam provocado um colapso do sistema financeiro internacional. O crĂ©dito secou, e o Estado entrou em campo para evitar uma depressĂŁo igual Ă dos anos 30. Aqui na GrĂŁ-Bretanha muitos criticaram, e continuam criticando, o fato de o governo ter socorrido banqueiros, que seriam os responsáveis pela recessĂŁo que se seguiu Ă crise de crĂ©dito. Por isso, lĂderes como Barack Obama e Gordon Brown vĂŞm condenando, pelo menos verbalmente, que premiam o risco e a riqueza imediata, em mais um assalto no embate entre Estado e setor privado.
O fato de o poder pĂşblico ter aparecido no mundo desenvolvido como o salvador de muitas pátrias decretou uma vitĂłria moral do Estado sobre o mercado, afetando inclusive o debate polĂtico. Aqui na GrĂŁ-Bretanha, a oposição conservadora evitava recorrer aos antigos argumentos de Margaret Thatcher de que o governo era o culpado de tudo, afinal, dessa vez claramente os vilões haviam sido os executivos de Wall Street e da City londrina, beneficiados por uma frágil regulamentação. Mas, exatamente quando a vida começa a voltar ao normal no mundo dos banqueiros, com lucros, bĂ´nus e ações em alta, os argumentos polĂticos tambĂ©m retornam ao tradicional status quo. Na semana passada, o lĂder dos conservadores, David Cameron, possivelmentre o prĂłximo primeiro-ministro britânico, . Em seu discurso, ao final da Ăşltima convenção do seu partido antes das eleições de 2010, Cameron prometeu reduzir o tamanho do governo em favor de uma "sociedade mais forte".
É possĂvel que, sob a pressĂŁo de paĂses como França e Alemanha e considerando os danos que mercados super desregulados causaram Ă ˛ő economias dos Estados Unidos e da GrĂŁ-Bretanha, o mercado financeiro nunca mais volte Ă ciranda que tomou conta dos primeiros anos deste milĂŞnio. Mas o fortalecimento do Estado, que tem sido uma constante desde o agravamento da crise no ano passado, nĂŁo significa que o mercado se contentará com a posição de coadjuvante. O histĂłrico embate entre os poderes pĂşblico e privado continua, tanto na economia como na polĂtica. O crash de 2008 deixou o Estado na dianteira, mas ainda há muita corrida pela frente.
°ä´Çłľ±đ˛ÔłŮá°ůľ±´Ç˛őDeixe seu comentário
ParabĂ©ns pelo equilĂbrio dentro do imenso desequilĂbrio entre direita e esquerda econĂ´micas. Entretanto a historia foi assim. Direção econĂ´mica do Rei, dos senhores feudais. A burguesia se revolta com a "boa vida da elite" cujo dogma era e AINDA É, de que quem trabalha no chĂŁo de fabrica, com as mĂŁos na massa (do pĂŁo ou do reboco)nĂŁo pode ter “aptidĂŁo” para gerir a economia ou a polĂtica. Acontece que as elites falham por nĂŁo considerar o povo usando dogmas antigos ou atuais, como o da mĂŁo invisĂvel do mercado ou mesmo o da falsa meritocracia, já que o acesso a educação nĂŁo Ă© igualitária. Tudo para açular ainda mais o egoĂsmo imanente nos instintos de nutrição e reprodução que se manifesta por exemplo com a imensa desigualdade social. Querem ver? NĂŁo Ă© justificável a diferença de salários entre a gerencia e o chĂŁo de fabrica, que encontramos na economia brasileira. Assim o texto Ă© “condescendente”, da uma “passada de mĂŁo na cabeça” de ma elite que havia considerado o mercado como fim da historia (Fukuyama). Resta pouco tempo para os bancos reciclarem. A era do Estado eficaz chegou, inexoravelmente