Tiros da polĂcia
A capital da GrĂ©cia, Atenas, foi transformada . De um lado manifestantes, muitos deles armados com paus e pedras, e do outro a tropa de choque da polĂcia local. O motivo dos violentos protestos: a morte de um garoto de 15 anos, Alexandros Grigoropoulos, atingido no fim-de-semana por um tiro disparado por um policial.
Muito longe dali, em BrasĂlia, pouco antes do jogo decisivo do Campeonato Brasileiro, um outro rapaz, Nilton CĂ©sar de Jesus, de 26 anos, levava um tiro da polĂcia na cabeça. , nesta terça-feira ele continuava entre a vida e a morte. Um comandante da PolĂcia Militar apareceu na segunda-feira na TV dizendo que se tratava de um erro pessoal, de um sargento. Nada que possa ser associado Ă corporação como um todo, disse ele. O uso de armas de fogo em situação de protestos ou tumultos, ainda segundo o comandante da PM, nĂŁo era recomendado.
Dois jovens, dois tiros da polĂcia. Duas histĂłrias bem diferentes. Na GrĂ©cia, o caso ameaça o governo. O primeiro-ministro, Costas Karamanlis, tem discutido com o presidente, Karolos Papoulias, como sair da crise gerada pelo assassinato. No Brasil, onde tiros sĂŁo dados e recebidos com uma chocante naturalidade, o incidente em BrasĂlia foi apenas mais um fato do cotidiano.
Logicamente, os gregos sĂŁo uma sociedade muito mais combativa do que a brasileira, inventaram a democracia, apesar de a prĂłpria ser bastante conturbada, e estĂŁo descontentes com vários aspectos do governo atual, entre eles o impacto da crise econĂ´mica global no paĂs. A morte do jovem pode ser apenas a gota d'água para uma população já há muito insatisfeita. Mas nada muda o fato de que, pelo menos em tese, policiais que enfrentam tumultos nĂŁo deveriam nem portar armas de fogo, quanto mais dispará-las. Na GrĂ©cia, um deles usou e matou. Provocou dias de fĂşria em vários pontos do paĂs. No Brasil, o policial responsável foi detido. Caso (aparentemente) encerrado.
Com mais esse exemplo de como o mundo constantemente nos apresenta realidades diferentes, ou incrivelmente opostas, eu me despeço de 2008. Daqui a poucas semanas teremos um novo ano, com um novo presidente americano, uma crise econômica ainda mais aguda e certamente muitas surpresas. Que venha 2009. Até lá.