±«Óãtv

Arquivo para agosto 2007

Menos um

Maria Luisa Cavalcanti | 20:36, quinta-feira, 30 agosto 2007

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"Redevelopment" parece ser a palavra de ordem hoje em Londres. A cidade virou um canteiro de obras. No centro, prédios antigos são derrubados sem pena para darem lugar a construções envidraçadas e metalizadas. Nos bairros mais afastados, qualquer terreno está ocupado por guindastes e tratores.
A pior face dessa onda de modernização e especulação imobiliária é, para mim, a descaracterização de pontos interessantes da cidade. Recentemente, o mercado de Spitalfields foi reduzido pela metade para dar espaço a um minishopping. Os artistas e designers que vendiam suas coisas ali foram espremidos e ganharam a concorrência de lojas de grife. O público também mudou, e o que era um ótimo programa de domingo virou uma chatice.
Agora, quem está ameaçado do mesmo mal é o Stables Market, em Camden. Esta semana, dezenas de comerciantes locais fecharam seus pontos e foram realocados em outro mercado próximo. Muitos reclamam que perderam espaço e posições estratégicas. Mas o maior impacto virá mesmo quando o local virar outro shopping center, com suas Body Shops, H&Ms, Accesorizes, Offices, Gaps etc. Os admnistradores garantem que as obras são só para melhorar o local e que essa invasão não vai acontecer, mas moradores e freqüentadores já trataram de criar uma para tentar fazer frente à modernização desgovernada.
Eu já assinei.

Velhice veloz

Rodrigo Durão Coelho | 20:41, segunda-feira, 27 agosto 2007

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A primeira vez que vi uma dessas mobility scooters, ou MS (foto), foi lá pelos idos do final do século.mob.jpg Um vizinho meu, idoso, costumava sair sozinho para passear de madrugada em uma delas e geralmente acabava atolado em alguma lombada, com o motor girando, nervoso, mas sem sair do lugar até que a enfermeira o recolhesse.

Ultimamente, tenho reparado que a cidade anda cheia dessas MS. O fato de os motoristas não serem aparentemente tão velhos ou obesos me fez imaginar se isso não seria mais uma das manias do sistema de saúde daqui, uma espécie de moda: médicos que passam a receitar indiscriminadamente os veículos e pacientes que se vêem de uma hora para outra compelidos a ganhar uma.

E, perto da minha casa, tenho visto veteranos da terceira idade descendo as ruas velozmente, no comando desses veículos. A velocidade máxima original de fábrica de pouco mais de 10km/h tem aumentado bastante pelas ladeiras de Denmark Hill. O que me fez questionar se o mito da velhice como uma época de movimentos lentos, placidamente inofensiva, não poderia ser em breve destruído pela tecnologia.

O sorriso jovial no rosto do nonagenário do meu bairro, e de outros que tenho visto, não deixa dúvidas de que eles estão sendo fiéis à sua natureza, não se conformando a uma vida artrítica em câmera lenta, onde o maior desafio do dia é conseguir ir ao supermercado sem cair.

Será que o instinto veloz de um Ayrton Senna teria sido completamente aplacado pelos anos, se ele tivesse vivido até as vésperas de completar um século?

Talvez esses ainda sejam tempos românticos nos quais os emburrados legisladores ainda não tiveram a chance de arruinar a diversão da velharada impondo regras, restrições, exames de vista e velocidades máximas. Nesse contexto, os audaciosos idosos que descobriram o potencial dessas motinhos seriam desbravadores em um mundo ainda sem leis. Ou talvez as leis já existam e faltem apenas emburrados patrulheiros pelos bairros da cidade.

Mas, pelo visto, cada vez mais gente descobriu um novo prazer na terceira idade, a época em que muitos já não ligam para as convenções sociais, mas com freqüência não têm mais os meios para quebrá-las.

Em busca de Madeleine

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Rogério Simões | 20:07, sexta-feira, 24 agosto 2007

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madeleine.jpg
A saga continua. Mesmo sem novas informações concretas sobre o seu paradeiro, o rosto da menina britânica Madeleine McCann, de 4 anos, continua exposto em páginas de jornal, sites de notícias e programas de TV. Em artigo no jornal interno da ±«Óãtv, nossa colega Kirsty Wark, respeitada apresentadora do programa , disse: "Eu não consigo pensar em nenhum outro assunto que tenha permanecido em destaque por tanto tempo com tão poucos fatos".

O sumiço da menina britânica em Portugal parece ter gerado uma espécie de ansiedade coletiva, em que moradores sem conexão alguma com o caso se perguntam o que terá acontecido com a garota ou organizam movimentos para encontrá-la. Na internet, existem inúmeros sites supostamente trabalhando nessa busca. O site oficial, , diz que o fundo para ajudar nas buscas já recebeu mais de R$ 4 milhões em doações. Há também o , e o , este em francês, entre outros.

Em relação ao papel da imprensa nesse emaranhado de sites, fotos e muita desinformação, Kirsty Wark tem razão. Em um mundo onde um incontável número de crianças desaparecem diariamente, a cobertura sobre Madeleine atingiu proporções muito maiores que a notícia. Se no Brasil o caso ganhou destaque, imaginem aqui na Grã-Bretanha. Qualquer meia declaração de um assistente da polícia portuguesa, dizendo que "acredita" que algo "possa" ser uma coisa ou outra ganha um alto de página nos jornais mais populares. A grande imprensa, sentindo-se pressionada pelo interesse do público, corre atrás. Jogadores de futebol vestem camisas com o rosto da menina, enquanto sua imagem é projetada em espaços públicos no país.

Como bem descreveu Wark, a família de Madeleine (na foto acima, o pai, Gerry, e a mãe, Kate) tem demonstrado uma fantástica capacidade de organização e inteligência no uso da mídia em favor de seu principal objetivo: manter o desaparecimento da menina no noticiário. De entrevistas coletivas para fazer apelos ao público ao já famoso encontro com o papa Bento 16, os McCann não têm poupado esforços para usar a mídia como podem. A imprensa, no entanto, deveria ter o distanciamento necessário para saber exatamente quando a exposição do caso é justificada e quando não é, mas tal discernimento tem sido raro por aqui.

Desaparecimentos ou assassinatos não esclarecidos têm um grande poder de permanecer no imaginário popular. Três décadas antes do caso Madeleine, o Brasil viveu o drama da família de Carlinhos, o garoto de 10 anos que desapareceu em 1973. Incontáveis reportagens de TV tentaram, mesmo muitos anos depois, encontrar o "verdadeiro Carlinhos", sem sucesso. Em casos como esses, se alguém deve manter o equilíbrio, a razão e o distanciamento é a imprensa. Todos certamente desejam um final feliz para o drama de Madeleine, mas o que não faltam são crianças como ela mundo afora. A ±«Óãtv, que chegou a apresentar seu noticiário de TV diretamente de Portugal, diante da comoção pública após o desaparecimento, precisa ficar atenta para não cometer exageros onde não há fatos, apenas suposições ou apelos. Nós devemos nos ater aos fatos, questionar as suposições e deixar os apelos para as campanhas na internet.

O cliente, esse infeliz

Márcia Freitas | 20:08, quarta-feira, 22 agosto 2007

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Eu já não me lembro como era no Brasil, mas aqui na Grã-Bretanha toda vez que você precisa de algum tipo de serviço, é um pesadelo.

Por exemplo, o seu cartão de crédito expirou e você precisa receber o novo. O banco te manda uma carta para você marcar um dia mais conveniente para receber o cartão. Você precisa estar em casa para assinar a correspondência, por medida de segurança. Acontece que a empresa que entrega o cartão diz que você pode escolher o dia, mas não a hora da entrega. Então, em princípio, você tem que ficar das 9 da manhã às 5 da tarde esperando. É possível?

Na semana passada, precisei chamar o técnico para verificar um problema na conexão de internet. Me disseram que o cara viria entre 9 e 11 da manhã. Às dez, ele me ligou para dizer que estaria lá em uma hora. Às onze, ligou de novo para dizer que estava chegando. Chegou ao meio-dia.

Mas é preciso reconhecer que as pessoas que prestam serviço também devem ter as suas reclamações. Enquanto o cara estava em casa resolvendo o problema da conexão, um colega seu ligou contando a seguinte: ele tinha ido visitar um cliente que estava reclamando que estava sem internet. Quando ele chegou na casa do sujeito para verificar o problema, descobriu que o cara não tinha computador. 'Não tinha computador, tem certeza?', pergunta o meu prestador de serviço. 'Não, não tinha', responde o outro, e queria internet. Oras bolas.

Estilo japonês

Ilana Rehavia | 12:59, segunda-feira, 20 agosto 2007

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Quando o assunto é criatividade na hora de se vestir, ninguém bate os japoneses.
japan.jpg
Durante uma viagem de trabalho para Tóquio no começo do ano, um dos meus passatempos preferidos era observar as várias tribos que povoam os bairros mais "fashion" como Shibuya e Harajuku.

O mais interessante para mim é que eles absorvem as tendências e modas do resto do mundo (como por exemplo, o punk britânico) e dão um toque completamente japonês. Além disso, muitos não têm medo de ousar ao extremo, com roupas inspiradas em desenhos animados (como na foto) ou fetiches.

Para quem se interessou, o site mostra bem o estilo japonês, com fotos de pessoas interessantes nas ruas da cidade.

Antes tarde

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Rogério Simões | 19:45, terça-feira, 14 agosto 2007

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tonywilson.jpgGostaria de, rapidamente, usar este espaço para registrar uma notícia que acabou sendo ignorada por nós: a morte, na última sexta-feira, do visionário empresário da música Tony Wilson. Grande responsável pela cena musical da cidade inglesa de Manchester, nos anos 80, Wilson lançou Joy Division, New Order e Happy Mondays. O suficiente para garantir a ele um lugar entre os grandes da música pop. Uma notícia triste, mas que merece, mesmo com atraso, aparecer por aqui.

Vazamentos

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Rogério Simões | 16:30, segunda-feira, 13 agosto 2007

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tam.jpg
Jornalistas e documentos são uma combinação explosiva. Coloque um em contato com o outro, e dessa união certamente nascerá uma manchete de impacto. Especialmente quando essa relação tiver nascido do que chamamos de "vazamento", ou "leak" na língua inglesa.

Informações supostamente contidas na caixa-preta do Airbus A320 que se acidentou ao final da pista de Congonhas apareceram na e, em seguida, foram assumidas pela voz oficial de parlamentares, dentro do próprio Congresso. A onda gerou críticas no exterior. O órgão do governo francês responsável por investigar acidentes aéreos chegou a divulgar uma nota criticando o que considerou conclusões precipitadas baseadas em dados preliminares.

Geralmente passadas por fontes com interesses particulares em algum assunto, informações "vazadas" para a imprensa precisam ser tratadas com cuidado e ceticismo. Limitar-se a "obter" a informação e passá-la para frente seria reduzir o papel da imprensa ao de um mensageiro sem visão crítica, que inclusive pode, diante da necessidade de contar a história de maneira simplificada e de fácil compreensão, apresentar uma versão imprecisa do que recebeu. A não ser que tais dados sejam fatos concretos e incontestáveis, o leitor deve sempre ser claramente alertado de que eles são preliminares, especulativos, inconclusivos etc.

Os vazamentos sobre o acidente da TAM me lembraram o caso do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia londrina em julho de 2005 no metrô da capital britânica. Logo depois do incidente, uma chuva de informações contraditórias e precipitadas passou a idéia de que o homem morto pela polícia tinha ligações com os atentados frustrados do dia anterior. Apenas 24 horas depois a polícia divulgou que seus comandados haviam na verdade matado um inocente, de nacionalidade brasileira. O fato de que a polícia colaborou para a desinformação inicial foi criticado em um relatório recente da comissão que investiga as ações da Scotland Yard. Para ela, o chefe da divisão antiterror enganou o público com suas declarações iniciais. É bom dizer que a imprensa também contribuiu para propagar uma visão parcial e enganosa do que havia ocorrido. Logo depois da morte de Jean Charles, supostas testemunhas da ação da polícia foram ouvidas ao vivo por canais de TV, entre eles a ±«Óãtv, e no dia seguinte apareceram nos jornais. Entre os equívocos divulgados por eles, estava o fato de que o brasileiro estaria vestindo um casaco pesado, de frio (ele vestia na verdade apenas uma camisa jeans) e que ele havia pulado as catracas do metrô (provavelmente alguém do público viu um agente policial pulando as catracas, enquando Jean Charles havia passado por elas tranqüilamente, usando um bilhete).

Veio, então, um importante vazamento. Em agosto de 2005, o canal ITV trouxe o que dizia ser documentos da própria investigação, incluindo uma foto do corpo de Jean Charles no chão do vagão de metrô. Os dados, que não foram contestados pelas autoridades, foram vitais para que mudasse a percepção do público sobre o comportamento do brasileiro nos instantes antes da sua morte. Ele, segundo o material vazado para a ITV, não havia feito nada que levasse a polícia a considerá-lo um suspeito. Foi morto sem saber por quê.

Não há dúvida de que o vazamento dos documentos esclareceu dúvidas iniciais sobre o caso e permitiu que erros da polícia londrina fossem rapidamente expostos. Mas ele também levantou novas questões, até hoje sem respostas. Se Jean Charles não agiu de forma suspeita, por que e como foi dada a ordem para matá-lo? Da mesma maneira, o vazamento sobre a tragédia em São Paulo parece ter esclarecido alguns pontos, mas confundido outros ainda mais. Foi mesmo o manuseio do manete que evitou que o avião parasse? O que, afinal, causou o acidente? A verdade é que ainda ninguém sabe. Assim como ninguém do grande público sabe o que exatamente levou à morte de Jean Charles, já que o processo contra a polícia segue em curso.

Casos como esses são úteis para nos lembrar que, se a imprensa livre existe para esclarecer fatos e trabalhar em busca da verdade, não é sempre que a pura divulgação de informações resolverá o problema. Muitas vezes é o contrário. Em 2001, aqui na Grã-Bretanha, uma entrevista do com um personagem de um caso em que dois jogadores de futebol eram acusados de espancar um jovem acabou levando ao cancelamento do julgamento. O juiz avaliou que as informações divulgadas pelo jornal prejudicavam o caso. Um novo julgamento foi realizado meses depois, mas meses de trabalho da Justiça foram jogados fora, e o jornal pediu desculpas formalmente.

Nós jornalistas temos de lidar com a informação de maneira responsável. Se informações ou documentos sigilosos chegam às nossas mãos, e nós concluímos que sua divulgação é de interesse público, temos que: alertar o leitor/ouvinte/espectador sobre a natureza do material e, especialmente, se os dados forem inconclusivos, incompletos ou imprecisos; e ter consciência das possíveis conseqüências de tal notícia, seja na Justiça ou na esfera particular dos envolvidos. Se cumprirmos essas regras básicas, manteremos a certeza do dever cumprido e a confiança do público.

Cópia ou inspiração?

Ilana Rehavia | 13:44, sexta-feira, 10 agosto 2007

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Há um bom tempo acontece uma guerra aqui na Grã-Bretanha. De um lado, marcas de luxo como Chloé e Burberry. Do outro, a "high street", como são conhecidas as redes de lojas mais baratas, como a Topshop e H&M.

O problema são as peças que aparecem na "high street" e são extremamente similares a roupas e acessórios criados pelos estilistas em questão.
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Cópia ou inspiração? Esse parece ser o debate, mas, em alguns casos, as similaridades são tantas que fica difícil acreditar que não se trata de plágio descarado.

A loja virtual não esconde a que veio com o nome sendo abreviação de As Seen on Screen (Como Visto na Tela, em tradução livre). O site está fazendo enorme sucesso ao reproduzir por uma fração do preço as roupas usadas pelas estrelas de Hollywood e outras celebridades.

Enquanto isso, a guerra continua com processos na Justiça e troca de acusações. Pelas vendas da "high street", no entanto, os consumidores não parecem se importar em usar uma peça xérox.

Eita Pete Doherty...

Rodrigo Durão Coelho | 21:17, quarta-feira, 8 agosto 2007

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... Então Pete Doherty foi banido de Londres. Caraca! De onde saiu isso? Só mesmo aqui para alguém que é considerado um ícone desse começo de século receber uma sentença que soaria normal se fosse proferida durante a Idade das Trevas. Naqueles dias sem mapas ou estradas, o exílio era ‘pior do que a morte’, uma vida solitária e sem esperanças, onde a única certeza era o perigo rondando a cada passo pelas florestas escuras.

Não que esses sejam tempos mais humanos. Afinal, alguns poderiam dizer que se criaram novos castigos ‘piores que a morte’ para os célebres, como a indiferença pública, por exemplo.
pete.jpg
Mas Doherty, famoso por manter casos amorosos públicos, tanto com a modelo mais famosa do país como com drogas ilegais como heroína e crack, recebeu a sentença como se fosse um benefício. Ao contrário das hostis batidas policiais de décadas atrás, quando até o dócil Paul McCartney se deu mal, o juiz do caso entendeu que os animais perigosos e as armadilhas letais para Doherty se encontram em Londres. Sendo assim, o exílio. Por um mês, para desintoxicar.

Além de se preocupar com a integridade física do rapaz, um efeito colateral da leniente sentença é dar uma forcinha para a sua carreira. Ultimamente, ter problemas com a justiça melhora bem o CV de uma celebridade. Paris Hilton que o diga. Confere profundidade ao personagem.

Não que o músico (sim, ele é músico) precise disso. Muita gente gabaritada o classifica de genial. Embora eu me pergunte quantos dos que estão familiarizados com suas peripécias seriam capazes de lembrar de alguma de suas poucas músicas de três acordes. Não que fazer músicas com três notas seja um problema. Lennon, Syd Barrett e Joe Strummer já provaram que se pode ser genial com até menos. Na verdade, não que não se lembrar de uma música dele seja um problema. Tem horas que isso parece até um problema a menos.

O tempo e a previsão do tempo - uma obsessão

Márcia Freitas | 14:47, terça-feira, 7 agosto 2007

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Eu me lembro que em um dos meus primeiros anos aqui na Grã-Bretanha, eu ouvi uma senhora dizer uma frase britânica clássica ao entrar em um restaurante: 'Oh, dear... what a horrible weather!' (algo como 'Nossa, que tempo horrível'). Era um dia cinzento e chuvoso, como a maioria dos dias aqui. Na época pensei como era possível que essa mulher, de seus 70 anos, depois de viver provavelmente toda a vida aqui, ainda conseguia fazer algum comentário sobre o tempo. Afinal, não é todo dia igual e, ainda por cima, todo dia cinzento?

Mas isso foi no começo. Hoje, anos mais tarde, eu sei que falar sobre o tempo é como uma 'doença contagiosa'. Depois de uns anos morando aqui, o tempo passa a ser um de seus tópicos inevitáveis. Ninguém escapa. Pelo menos uma vez ao dia você vai mencionar o assunto. Como estava o tempo ontem, como está hoje e como estará amanhã. E, como estamos em uma ilha, o tempo também pode mudar bastante durante um único dia. Você fica olhando pela janela para decidir que roupa usar, se deve levar sombrinha etc. Vira uma obsessão.

070807_previsao203.jpg

Depois de mais de 9 anos aqui, eu devo estar em um estágio avançado da doença. Acabei de voltar de uma semana de férias na Grécia, onde o aquecimento global está 'funcionando direitinho' e as temperaturas chegam aos 45, 46 graus. Mesmo assim, eu comentava sobre o tempo, sempre, com os amigos que encontrava. Nossa, que calor, meu Deus, que delícia, estamos amando, é, sim, mas hoje deu uma esfriadinha, ficou só em 32 graus, amanhã vai chegar aos 39, será que não chove? e aí por diante. Com o clima mudando em todo o lugar, daqui a pouco não vai sobrar tempo para falar de mais nada.

Como já foi mencionado em outros blogs, aqui na Grã-Bretanha estamos com certeza sendo castigados por alguma coisa neste verão. Abril foi lindo, mas desde então acho que só tivemos uns cinco dias de sol.

Quando voltei no domingo, o tempo estava melhor aqui. Na segunda, ao entrar na redação, o primeiro comentário que fiz foi: 'nossa, o tempo melhorou, hein?'. Em meia hora, ouvi a colega ao lado comentar ao telefone como o tempo estava ótimo no fim de semana. Como disse, ninguém escapa.

Mesmo tendo finalmente descoberto que o hábito de falar sobre o tempo é na verdade uma 'doença contagiosa', a atitude dos britânicos em relação ao clima ainda me surpreende. Na última semana de julho, quando tivemos o primeiro desses cinco dias de sol no ano, qual não foi a minha supresa ao ver, de manhã, na estação de metrô, um desses cartazes comuns por aqui no verão que dizem 'stay cool in the heat', dando conselhos sobre como lidar com o calor (?!?!), tais como carregar sempre uma garrafinha de água e usar roupas arejadas. 'Heat', que 'heat'? Esses britânicos....

Liberdades de imprensa

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Rogério Simões | 15:33, quinta-feira, 2 agosto 2007

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Durante meu curso de jornalismo na USP, tive a oportunidade de conversar com um antigo professor, que já havia encerrado suas atividades na faculdade havia anos e tinha orgulho de seu conservadorismo. Em uma discussão sobre liberdade de imprensa, ele me disse algo como: "O jornalista acha que liberdade de imprensa dá a ele o direito de escrever o que quiser no jornal onde trabalha. Mas liberdade de imprensa significa apenas que qualquer um tem a liberdade de criar (ou comprar) seu próprio jornal e nele escrever o que quiser." Se seguirmos essa lógica, poucos têm conseguido exercer os direitos estabelecidos por tal liberdade como o empresário Rupert Murdoch (foto acima).

Com a aquisição da Dow Jones, dona do "The Wall Street Journal", Murdoch e seu impressionante grupo News Corporation acrescentam um dos mais prestigiados jornais do mundo à sua coleção de uma centena de outros títulos. Murdoch já era dono da Fox (Fox News, 20th Century Fox, Fox Mulder...), da Sky TV, dos jornais britânicos "The Sun", "News of the World", "The Times" e "The Sunday Times", da editora HarperCollins e do site MySpace, para ficar entre os mais conhecidos. E o que nunca faltou a Murdoch foi o exercício da "liberdade de imprensa" que o antigo professor de jornalismo pregava. O empresário, que nasceu na Austrália, mas obteve cidadania americana e conquistou boa parte do mundo, é conhecido por exercer influência na linha editorial e no conteúdo dos jornais de sua propriedade.

Um ex-editor do Sunday Times, Andrew Neil, disse à ±«Óãtv que Rupert Murdoch faz questão de deixar sua marca nas suas publicações. "Ele tenta contratar editores que pensam como ele", afirmou. "Quando há algo sobre qual ele tem uma opinião forte ou quando seus interesses comerciais estão em jogo, ele não deixa dúvidas sobre o que ele quer que você faça." Neil parece concordar com o conceito de liberdade de imprensa exposto acima. "Eu acho que, se você é dono do título, você tem o direito de intervir." Mas, se todos os empresários de comunicação pensarem e agirem como, aparentemente, faz Murdoch, como pode o leitor confiar no que dizem esses veículos de comunicação? Será que tudo o que eles publicam está, de alguma forma, sob suspeita?

Uma saída é a transparência. O leitor sabe que empresários têm seus interesses e que estes poderão, em algum momento e de alguma maneira, estar representados no jornal. O que o incomoda, e pode vir a prejudicar a credibilidade da publicação no longo prazo, é qualquer tentativa de um jornal ou revista de esconder tais interesses, dizendo-se imparcial e distanciado quando na verdade tem um interesse direto (comercial ou político) em uma cobertura. Para evitar isso, o veículo deveria revelar sua posição, se tiver alguma. O jornal vai noticiar um negócio que poderá favorecê-lo ou prejudicá-lo? Deixe então isso claro em um editorial ou, se possível, na própria notícia. O leitor agradecerá a honestidade e confiará mais no veículo, mesmo que não concorde com ele.

Vocês perguntariam: e na ±«Óãtv, como fica? Bem, como eu já disse aqui mais de uma vez, a ±«Óãtv não tem opinião ou interesses. A ±«Óãtv é de propriedade da sociedade britânica, e não é possível assumir os interesses de 60 milhões de donos. Portanto não há posições a serem defendidas, e a saída nesse caso é a eterna busca do equilíbrio, da imparcialidade, da neutralidade, custe o que custar. Se não há como ser a favor de todo mundo, a ±«Óãtv não pode ser a favor de ninguém, o que para a corporação tornou-se um princípio estabelecido por lei. Para o jornalista, a diferença é clara: num jornal de propriedade de um empresário intervencionista, o repórter pode ter de escrever o que o patrão manda, mesmo contra a sua opinião pessoal. Já o jornalista da ±«Óãtv não pode defender visão alguma, nem a própria.

O pobre do repórter, então, fica sem espaço para expor suas idéias, suas opiniões? Não exatamente. Colunas opinativas sempre fizeram parte da realidade de qualquer jornal, e nelas costumam aparecer idéias contrárias às do dono do veículo. O grau de liberdade vai depender do compromisso do proprietário com o pluralismo, e é muito comum que haja limites internos. A solução para o profissional de imprensa que não aceita nenhum tipo de controle, seja a imposição das idéias do patrão ou a obrigatória imparcialidade da ±«Óãtv, veio com a internet. Sites pessoais, blogs e espaços independentes de discussão proliferam e atraem um público cada vez mais interessado em jornalismo opinativo. Diante deste admirável mundo novo, o veterano professor ficaria pasmo. Por essa liberdade de imprensa ele não esperava.

Em defesa do sistema de saúde

Rodrigo Durão Coelho | 15:45, quarta-feira, 1 agosto 2007

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E como disse a Mônica no primeiro dos seus polêmicos posts, o sistema de saúde daqui É RUIM. Ou pelo menos, isso é o que se costuma ouvir.

Quando eu e minha mulher decidimos ter filho nesse país, nos preparamos para o pior. Ouvimos relatos de terrror, drama, suspense e até de humor negro.‘Se preparem para os açougueiros’, diziam, com um sorriso cansado de quem sabe. De quem já viu o pior.

Qual não foi nossa surpresa e alívio (principalmente o dela) ao vermos que a coisa não foi nada assim. Em linhas gerais, a face do sistema que vimos foi uma sem frescuras, atenciosa e competente.

Dentro desse cenário positivo (e totalmente gratuito), destaque absoluto para a figura benigna da midwife, que no Brasil, seria o equivalente à parteira. Na maioria das vezes, o rebento não chega ao mundo pelas mãos dos médicos, mas sim delas. Antes que os pêlos das nucas se ericem e a indignação avermelhe a cara de um ou outro, é bom ressaltar que elas estão muito mais para competentes profissionais da medicina do que comadres com um grande acervo de simpatias.

As midwifes acompanham a preggie (como a gestante pode ser carinhosamente chamada por essas bandas) durante a gravidez, conhecendo-a e fazendo acompanhamento médico e psicológico. Fazem o parto, natural, sem cortar desnecessariamente a pança das prenhas. Cesariana não é opção do paciente. O médico (aí sim, tem médico) só faz isso se existir risco para a mãe ou bebê.

E não há por aqui a velha história do "cordão umbilical enroscado em torno do pescoço" que justifique uma cesária. A midwife mesma desenrosca esbanjando experiência e habilidade.

Nos dias seguintes ao parto, elas visitam as residências, verificando se está tudo bem e dando dicas preciosas às mamães de primeira viagem.

Pois bem, foi esse o pacotão a que tivemos acesso em um hospital do sul de Londres. Ele vem se mostrando bem-sucedido a ponto de o governo desejar expandi-lo para todo o país. Tomara. E tomara também que troquem o termo midwife. Porque, apesar de todas as benesses trazidas na prática, o termo não ajuda. Soa sexista e ultrapassado, algo como ‘meia-esposa’ (não é, significa ‘com’ a esposa).
juju.jpg
Que o diga um cidadão que se apresentou como midwife no hospital. A cara de assustado e a prontidão com a qual sacou o crachá para provar que ele era realmente um midwife me convenceram de que o rapaz tinha que trabalhar dobrado para vencer os preconceitos que o nome carrega.

O nome da atividade é triste mas ela vale a pena. E muito.

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