Se a tensĂŁo Ă© grande, relaxe e seja racional
Me lembro bem daquela manhĂŁ no dia 7 de julho de 2005.
Acordei e, como de hĂĄbito, liguei o rĂĄdio para ouvir as notĂcias enquanto me arrumava para ir para a ±«Óătv. No inĂcio, parecia sĂł que estĂĄvamos tendo um daqueles dias em que o metrĂŽ resolve nĂŁo funcionar. EstaçÔes fechando, uma confusĂŁo.
AĂ a coisa ficou mais sinistra. Ao invĂ©s de queda no sistema elĂ©trico - como se suspeitava no inĂcio - o que tinha provocado os fechamentos era uma sĂ©rie de atentados a bomba simultĂąneos.
Minha primeira reação foi ligar para meu irmão, que também mora em Londres, e dizer pra ele não sair de casa.
Depois, telefonei para meu editor, que me disse para ficar onde eu estava - ou seja, nada de ir para Bush House, no centro da cidade, num dia como aquele. Ligar para casa, só mais tarde, jå que no verão daqui a diferença de fuso fica muito grande. Eram pouco mais de cinco da manhã em São Paulo.
Foi um dia estranho. Choveram telefonemas e torpedos da famĂlia e dos amigos, tanto em Londres como no Brasil.
Ăs vezes a mensagem era curta e direta: "Are you ok?" Essa frase ganha um tom tĂŁo dramĂĄtico e desesperado em momentos como esse.
Na sexta-feira passada, dia 29 de junho, quase exatos dois anos depois, cheguei em casa tarde da noite e encontrei um recado na secretĂĄria eletrĂŽnica. "MĂŽ, sĂł liguei pra saber se estĂĄ tudo bem".
Os dois carros com bombas encontrados no centro de Londres nĂŁo chegaram a explodir, mas mesmo assim os amigos se preocupam. Meus pais preferem nĂŁo tocar no assunto, mas sei que ficam numa ansiedade incrĂvel com notĂcias como essas.
Retornei o telefonema da minha amiga. "EstĂĄ tudo bem, nĂŁo se preocupe. A chance de vocĂȘ ser pego em uma explosĂŁo Ă© mĂnima, sabia?" Ela riu. "Como vocĂȘ Ă© racional!" Respondi que essa era a Ășnica saĂda, ser racional.
E ninguém entende mais isso do que os londrinos. Depois de anos de atentados do IRA, ficaram vacinados.
Só mudou o nome da organização...
Os "quase" atentados em Londres e em Glasgow no fim de semana me remetem a um trecho da letra de uma mĂșsica que o John Lennon escreveu para o filho, Sean. "Life is what happens when you are busy making plans".
EntĂŁo, pensando bem, a saĂda Ă© nĂŁo apenas ser racional. Mas tambĂ©m lembrar, todo dia, que estou viva agora. E Ă© sĂł.
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"MĂŽ", se me permite tamanha intimidade;
Concordo contigo e acredito que ser racional em um caso destes seja preciso. A Maria Luisa jå comentou isso num post mais recente, mas acredito que, em situaçÔes como esta, temos que parar, pensar e então agir.
Claro que algum manĂ© sentado lĂĄ na Ășltima fileira diria que "por vezes nĂŁo temos tempo para pensar!". Mas vemos que em situaçÔes de risco grande, como num atentado, vocĂȘ tem de racionar para entĂŁo agir. Isso pode muitas vidas.
Agir sem pensar em uma cidade - ou paĂs - que passa por uma situação destas pode representar um risco muito grande. Aqui na cidade onde moro (Santa Cruz do Sul), temos uma regiĂŁo que Ă© conhecida como perigosa. NĂŁo vou lĂĄ a anos pois nĂŁo tenho o que fazer lĂĄ. Mas para se ter noção, entrega de correios, tele-entrega de pizza e demais coisas que sĂŁo entregadas desta forma, foram canceladas em tal bairro pois nĂŁo hĂĄ como continuar expondo estes profissionais.
Isto, minha cara "MĂŽ" e Maria Luisa, Ă© agir racionalmente. Primeiro acontece. Damos chance, pois acreditamos nĂŁo acontecer novamente. Na segunda vez, jĂĄ foi o bastante para gerar polĂȘmica.. e na terceira, cancelou-se os serviços definitivamente.
Acredito que, em Londres, as pessoas nĂŁo poderĂŁo viver sem ter cuidados como notar suspeitos, estar atento a pessoas e fatos que possam gerar algum tipo de dĂșvida. Claro, nĂŁo sejamos norte-americanos neste momento (como quem jĂĄ compra uma AK47 para proteger-se), maso mĂnimo de senso Ă© preciso ter.
Abraços para as duas e, segundo Marta Suplicy, "relaxem e gozem".